ENTREMEIOS
Como nos Reisados, apresentam-se também, entre diversas peças os “entremeios”. Mais característico e próprio do Guerreiro são:
1 - Sapo (em que o coro canta):
Ô sinhô seu mestre Izídio
Faça favor venha cá
Venha trazer seu sapinho
Pra neste salão brincar.
2 - O (a) Doido(a):
( Vestida toda mulambada, com uma vassoura e pedra).
Mestre:
Se eu não me engano toda peça é minha
Se eu não me engano toda peça é minha
Figuras:
Lá vem a doida atirando as pedrinhas
Lá vem a doida atirando as pedrinhas
*Ela varre e atirar pedra no povo.
(Parte da Doida, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa: Linete Matias).
3 - Joana Baia:
Mestre:
Você diz que eu tenho medo
Você diz que eu tenho medo
Moça veia vai chegar lá no tabuleiro.
Moça veia vai chegar lá no tabuleiro.
(Chamada da Joana Baia, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa: Linete Matias).
Mestre:
Joana Baia, Joana é, no meio da sala faz o que quer.
Joana é Joana Baia, no meio da sala levanta a saia.
(Uma mulher de tudo exagerada: peito, bunda, um vestido rodado. Pode ser também um homem vestido de mulher. Ela diz que é solteira, mas carrega um bucho bem grande e tem um filho. Ela conversa com o mestre).
Mestre: A senhora anda atrás de quê?
Joana Baia: Ando atrás de um namoro, pra eu me casar, que eu tô é sozinha. Sou solteira, livre e desimpedida!
Mestre: E esse bucho aí?
Joana Baia: Esse bucho, é que eu peguei uma doença (inventa qualquer doença feia), e a barriga cresceu desse jeito.
(chega o filho e puxa na saia)
Filho: Mamãe! Mamãe!
Joana Baia: (Emburrando o menino) Sai daqui menino, e eu lá te conheço.
Mestre: De quem é esse menino?
Joana Baia: (Emburrando o menino) E eu lá sei. Sai daqui menino, vai procurar tua mãe!
(Chega o Mateu e o Palhaço).
Mateu: Eita, mestre, essa mulher é minha!
Palhaço: Não senhor, ela é minha.
Mateu: Num tá vendo que o menino é a minha cara?
Palhaço: E o Bucho dela, é parecido com a minha.
Mestre: E aí Dona Joana, você de que marido é?
Joana Baia: Esse Palhaço e esse Mateu, que mulê é que quer. Eu já tive todos dois, agora os dois me quer. Tô achando melhor dá no pé.
(Pega o filho e sai)
*Benon lembra que um dia foi botar esse entremeio, quando eu disse assim: Joana é, Joana Baia, no meio da sala levanta a saia. Aí ela levantou a saia e caiu um monte de fato no chão, que tava na barriga dela. O povo já riu.
(Joana Baia, ensinado pelo Mestre Benon, em 2010 - Pesquisa: Linete Matias).
4 - O Cão, a Alma e Nossa Senhora
(O cão quer tomar conta dos bandidos. E quando o cão bota os braços por cima da alma - que é um bandido - nossa senhora vai e puxa ele).
Nossa Senhora: Aqui não, esse é meu.
(do mesmo jeito que acontece na vida real, na espiritual é a mesma coisa. Porque quando ele merece o cão leva e quando ele fez alguma coisa boa Nossa Senhora salva. O cão já leva a lama com a asa por cima dela, ele já vai condenado. Nossa senhora procura descobrir uma coisa boa que ele fez na terra, para poder salvá-lo. Nossa Senhora consegue, o cão fica com raiva, pegar pólvora e toca fogo e sai esfumaçando).
Cão: Esse homem fez muita ruindade, num tem como salvar esse não.
Nossa senhora: Não espere, ele fez ruindade, mais deve ter feito bondade também.
Cão: Que nada. (conta uma história de muita malvadeza que a alma fez).
Nossa Senhora: Meu filho, agora é por sua conta, você não fez nada de bom na sua vida. Lembre, tente se lembrar.
Cão: Desista, esse já é meu de certeza!
Nossa Senhora: Meu filho se você fez três bondades e quatro maldades, você vai pro caminho errado. Mas se você fez quatro bondades e três maldades, você vai pro caminho certo.
Cão: Num tem bondade nenhuma não, vamos logo que eu quero lhe mostrar a minha casa.
(quando o cão se prepara para levá-lo)
Alma: A única bondade que eu fiz, foi quando eu ia passando vi uma cabra enganchada na cerca, meio dia em ponto, eu peguei o chapéu e fui ver água, caminhei muito pra achar. Trouxe a água e dei a cabra pra beber. Foi à única bondade que eu fiz.
Nossa Senhora: Pois o senhor tá salvo! (pega a alma e vai embora. O cão fica bufando, ascende a pólvora e sai pegando fogo).
(Contado por Mestre Benon, em 2010. Escrita: Linete Matias).
5 - Lobisomem
(Corre atrás do povo)
Mestre:
Ô que bicho feio
Vige mãe de Deus
Figuras:
É o Lobisomem
Vem comer o Mateu.
(Chamada do Lobisomem, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa: Linete Matias).
6 - Cangaceiro e a Policia
(O cangaceiro vem quebrando tudo. O mestre chama a policia, quando ela chega o Cangaceiro se esconde).
Policial: Cadê esse caba? Aparece que eu quero te ver.
(Procura e não acha, quando a Policia vai embora)
Cangaceiro: Que Mané de podriça!
(começa o labafero, briga pra lá, pra cá. A Policia o leva preso).
(Cangaceiro e policia, ensinado pelo Mestre Benon, em 2010 - Pesquisa: Linete Matias).
7 - MATA-MOSQUITO, entremeio moderno, que consta de um indivíduo fantasiado com farda dos antigos guarda - sanitários, com uma ventarola na mão a cantar, com o coro:
- Seu Papa-mosquito, donde vem?
- Tou matando mosquito pra seu bem.
- Seu Papa-mosquito pra onde vai?
- Tou pegando mosquito pra seu pai.
8 - Zabelê
Zabelê pra onde vai
Zabelê pra onde vai
Com a sua barra azul
Com a sua barra azul
Passeando na cidade
Ô moreninha eu sou sul
Passeando na cidade
Ô moreninha eu sou sul
Zabelê passou bonito
Anda no interior
Ele vai cumprimentar
Tambozeiro e tocador
Zabelê passou bonito
Ele vem forte e ligeiro
Ele vai cumprimentar
Para o mestre do Guerreiro
Zabelê passou bonito
Para mim vale um tesouro
Ele vai cumprimentar
Estrela do Norte e a de Ouro
Zabelê passou bonito
Por aqui nunca andou
Ele vai cumprimentar
Para os dois embaixador
Zabelê Passou bonito
Ele vem lá da Serrinha
Ele vai cumprimentar
Pra sereia e pra rainha
Zabelê passou bonito
Nunca andou por aqui
Ele vai cumprimentar
Os vassalo e o índio Perí
(Mestre Djalma de Oliveira e Mestra Celsa Maria)
Zabelê passou bonito
E já vai se arretirá
Adeus a meu povo todo
E todo meu figurá
(Linete Matias)
PARTES
Mas o característico do Guerreiro são as “partes”, episódios que não se encontram no reisado, oriundas e imitadas do Caboclinho e dos Pastoris. Algumas são curtas e mais simples, como as da Estrela do Norte, estrela de Ouro, da Borboleta, da Sereia, da Banda da Lua, em que as citadas “figuras” vêm ao meio ou a centro, entre os cordões, e dançam e cantam sua “parte”:
8 - ESTRELA DE OURO
Mestre Canta:
Minha estrelinha de ouro (2x)
Da coroa de mental (2x)
Olhe eu vou festejar (2x)
Meu bom Jesus do Pilar (2x)
Minha estrelinha de ouro (2x)
Da coroa de brilhante (2x)
Olhe eu vou festejar (2x)
Meu bom Jesus navegante (2x)
Minha estrelinha de ouro (2x)
Da coroa de marfim (2x)
Olhe eu vou festejar (2x)
Nosso Senhor do Bonfim (2x)
Minha estrelinha de ouro (2x)
Quem lhe fez essa trama fui eu (2x)
Olhe eu vou festejar (2x)
O nosso menino Deus (2x)
(Música Estrelinha de Ouro, cantada Por Mestre Verdilinho e Mestre Venâncio – Transcrição: Linete Matias).
Estrela de Ouro: Boa noite minha Rainha que domina o seu tesouro!
Rainha: Pela fala me parece que sois a Estrela de Ouro!
Estrela de Ouro: Eu sou a Estrela de ouro que venho do arraiá, só venho de ano e ano quando manda me chamar, quero que me dê licença a minha parte eu vim cantar.
Rainha: Tua parte pode cantar/falando comigo primeiro, porque eu trago a ordem do rei desse Guerreiro.
Eu sou a Estrela de Ouro
Boa noite eu venho dá
Quero saber se aqui festeja
Viva a noite de Natá.
Coro: Essa é a Estrela de Ouro
Boa noite ela vem dá
Quero saber se aqui festeja
Hoje é noite de Natá.
Eu sou a Estrela de Ouro
Com prazer e alegria
Quero saber se aqui festeja
Jesus filho de Maria
Coro: Essa é a Estrela de Ouro...
Eu sou a Estrela de Ouro
Com prazer no coração
Quero saber se aqui festeja
A Virgem da Conceição
Coro: Essa é a Estrela de Ouro...
Essa noite eu sai fora
Não fui à parte nenhuma
As estrelinhas do céu
Servia de testemunha
Coro: Essa é a Estrela de Ouro...
Essa noite eu sai fora
Lá no céu vi um sinal
E era a Estrela de Ouro
Que já vai se arretirar.
Coro: Essa é a Estrela de Ouro...
Meus senhores e senhoras
Todos querem desculpar
Que já tá chegada a hora
Eu já vou me arretirar.
Coro: Essa é a Estrela de Ouro...
(Parte da Estrela de Ouro, cantada pela Mestra Vitória – Transcrição: Linete Matias).
9 - SEREIA
Mestre Canta:
A sereia cantou no mar, foi na broa da barca bela (2x)
Eu só peço para o meu amor, um galho de rosa amarela. (2x)
A sereia cantou no mar, foi na broa da barca dourada (2x)
Eu só peço para o meu amor, é um galho de rosa encarnada. (2x)
(Música Sereia, cantada Por Mestre Verdilinho– Transcrição: Linete Matias).
Sereia: Boa noite minha Rainha que domina a sua aldeia!
Rainha: Pela fala me parece que sois a Linda Sereia.
Sereia: Sou eu a linda Sereia que venho de alto mar, só venho de ano em ano quando mandam me chamar, quero que me dê licença a minha parte eu vim cantar.
Rainha: Serei pode cantar, a minha licença já tem, aqui nessa aldeia manda eu e mais ninguém.
Boa noite a todos queira apreciar
Eu sou a sereia das ondas do mar
Coro: Boa noite a todos queira apreciar
Essa é a sereia das ondas do mar
Meu cabelo é grande, tem muito valor
Tire um cacho dele para o tocador
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
Meu cabelo é grande, que me interesse
Tire um cacho dele, pra meu contra-mestre.
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
Meu cabelo é grande, tem muito dinheiro
Tire um cacho dele, pra meu tamborzeiro.
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
Meu cabelo é grande, patê até embaixo
Tire um cacho dele, pra meu bom palhaço.
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
Meu cabelo é grande, tem muito valor
Tire um cacho dele, pra o embaixador.
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
Meus senhores todos, queriam desculpar
É chegada a hora deu se arretirar.
Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...
10 - BANDA DA LUA
Mestre:
Vinte e quatro de dezembro
Meu Guerreiro sai a rua
Dou viva a todas estrela
E a nossa Banda da lua.
Banda da Lua:
Se eu fosse a Banda da Lua
Eu virava do sul para o norte
Se eu fosse a verde esperança meu Deus
Passava por cima da sorte
Se eu fosse a verde esperança meu Deus
Passava por cima da sorte
11 - BORBOLETA
BORBOLETA
Borboleta miudinha
Que veio de lá da Capela
Borboleta miudinha
Que veio de lá da Capela
Brinco no meio da sala
Com minhas asa amarela
Brinco no meio da sala
Com minhas asa amarela
Borboleta miudinha
Que veio de Aracaju
Borboleta miudinha
Que veio de Aracaju
Dança no meio dessa sala
Como minhas asinha azul
Dança no meio dessa sala
Como minhas asinha azul
Eu sou uma borboleta
Que veio lá Ataláia
Eu sou uma borboleta
Que veio lá Ataláia
Eu sou uma borboleta
Que já morei na lajinha
Eu sou uma borboleta
Que já morei na lajinha
Brinco no meio da sala
Toda peneiradazinha
Brinco no meio da sala
Toda peneiradazinha
(Mestra Celsa Maria)
Eu sou uma Barbuleta
Que venho de Maceió
Dançando no mei’da sala
Fazendo meu caracó.
(Livro de Théo Brandão)
Eu sou uma borboleta
Que venho lá do sul
Eu venho toda animada
Com minha asinha azul
(Dona Nadir)
Se arretira borboleta
Que tá na hora de seguir
Entre a flor e açucena
Borboleta vai dormir
(Mestra Celsa Maria)
Outras são mais desenvolvidas e complexas, abrangendo elas próprias uma seqüência de cantigas, danças e diálogos em versos, como acontece com as “partes” do Indio Peri e da Lira.
12 - A “parte” do Índio Peri
(que substitui a guerra dos reisados, basea-se no tema universal das danças dramáticas do Brasil e do estrangeiro (Congos, Cacumbis, Mouriscadas, Chegança, etc.): prisão e, às vezes, morte de um guerreiro inimigo que tenta entrar no país. Um Guerreiro de nação estranha (no, caso o índio) ousa penetrar no arraial dos Guerreiros. Há uma série de embaixadas entre os vassalos do Índio e ele próprio, de um lado, e os principais do Guerreiro, de outro, à semelhança e às vezes com as mesmas palavras que ocorrem nas cheganças entre os Mouros e Cristãos).
AVISOS:
Música: 1º aviso:
Eu fui chamado para guerrear/Mandaram me chamar; eu não queria ir/ vai ser uma grande surpresa, embaixador/Governador, e o Índio Peri.
Música: 2º aviso:
Aviso o meu índio Peri para
Se prevenir, que nos vamos entrar em guerra.
Coro:
Tava na serra, prisioneiro
Ô meu guerreiro, sentemos joelho em terra.
Música: 3º aviso:
Aviso o meu general/ Diretor é quem anima a gente/ estou pronto para combater/ meu índio Peri, guerreiro valente.
Embaixadas: Rainha e Índio (recitativo)
INDIO: Boa Noite minha rainha/me digas do que se trata.
RAINHA: Boa Noite Índio Peri, pessoa de nossa pátria/ Nascesse onde eu nasci/ E procedes da mesma arte/ Peço que se arretire/ antes que esse rei te mate.
INDIO: Eu de morrer não tenho medo/Assim chegue a ocasião/Eu nunca fui desfeitado/Tenho essa opinião/ Mas desejo conhecer/ o Rei de tua nação.
RAINHA: Continua a diversão/ Para todo mundo ver/Tocando tambor e ocresta/ O Rei é dono da festa/ Demora aí que senhor vê.
INDIO: Boa noite majestade/ Quero tua preferência/ Quero que me de licença/ De entrar no seu reinado.
RAINHA: Já tens a minha licença/ E vai dizendo o que quer/ se vens com medo descanse/ dessa batalha cruel.
INDIO: Medo eu nunca tive/ Nesse país brasileiro/ Minha nação é de Índio/ Nasci no morro fagueiro/ vim pedir para me aliar/ nessa nação de guerreiro.
RAINHA: ô índio eu estou conhecendo a sua disposição/ tu sois um caboclo índio fugindo de outra nação/procure devagarinho/pra ver se encontra um padrinho pra sua religião/ e procure se batizar/porque no meu arraiá não aceito índio pagão.
INDIO: Eu não quero me batizar/ Porque eu sempre fui feliz/ Ninguém pode me obrigar/ a Fazer o que eu nunca fiz.
RAINHA: ô índio você não pode/por ter pequena formosura/um golpe de minha espada/prossegue uma sepultura/não é preciso nem batalhar/só é bastante eu mandar um das minhas figuras.
INDIO: (exautado) Venha mestre e contra-mestre/ Rainha e embaixador/ Venha o rei por derradeiro/ de nós dois quem for mais ligeiro que se disponha o valor.
Música:
Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde o guerreiro manda/ a flecha vai mais não erra.
General, Índio e Rainha (recitativo)
RAINHA: Boa noite capitão diretor/ que domina esse guerreiro/ prenda o índio Peri/ e me traga prisioneiro.
Música:
Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde o guerreiro manda/ a flecha vai mais não erra.
GENERAL: Teje preso Índio Peri/ não queira se arrevorta/ siga na frente/daqui para o arraia/Índio Peri tá preso/ só se solta quando guerrear.
ÍNDIO: Eu já venho conspirando/ não posso mais demorar/ Aqui existe um caboclo/ chaleirando o generá/ Sou índio Arapuã da tribo do ceará/ Eu sou índio e sou guerreiro/ e caboclo afrontado me chamam? Não movo esses exércitos terrive/ sou eu o índio Peri que clama:/ ô índio, que tribo é essa que estou cansado de procurar?/ Foi a Rainha Iracema/ fugi da tribo de lá/ hoje aqui é dona lira/E é noiva do Generá/ ô, ô ! Reis que não me amas, se não morrer vou guerrear!
Música:
Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde o guerreiro manda/ a flecha vai mais não erra.
Peças de combate:
1ª Peça:
Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o mais estimado/nessa nação de guerreiro.
2ª Peça:
Rei das flechas quer ser festejado/rei das flechas quer ser festejado/ meu índio Peri vá pro teu estado/ meu índio Peri vá pro teu estado.
3ª Peça:
Mandei buscar para meu batalhão/ dois avião que voa no ar/pra viajar só depende da sorte/ vou à fronteira do norte brigar.
4ª Peça:
Nosso Brasil está em guerra/o brasileiro se assanha/coragem meu brasileiro/vou combater a Alemanha.
5ª peça:
Ô briga Brasil com a Espanha/ vamos combater Alemanha/ Ô briga Brasil com estrangeiro/ vamos combater meu guerreiro.
Prisão e libertação: Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o mais estimado/nessa nação de guerreiro.
ÍNDIO: Ô Rainha de caboclo/faça favor venha cá/vá pedir ao secretário/para mandar me soltar.
Coro: Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o mais estimado/nessa nação de guerreiro.
RAINHA: Boa noite Índio Peri/pra que mandou me chamar/ eu achei o senhor preso/ eu vou mandar lhe soltar.
Coro: Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o mais estimado/nessa nação de guerreiro.
RAINHA (fala): Índio Peri teje solto/não tenho mais o que fazer/sou a Rainha da Nação/ e não corro sem ver de que/ nesta nação de guerreiro/ todos tem que me obedecer!
ÍNDIO (levanta-se e fala): Obrigado minha Rainha/que veio me tirar daqui/mande tocar um baiano/que eu quero me divertir!
(Índio e Rainha dançam o Baiano comemorando a paz)
Final da parte: Ô viva a Lira, viva a Estrela de Ouro/Vale um tesouro a Rainha Imperial/Olê, Olá viva meu índio Peri/que é dono desse arraial.
(Referencia: A Parte – Guerreiros e Torés - Sonora Brasil – Origens - Circuito Nacional de Música).
13 - A “parte” da Lira
(não tem similar nos Reisados antigos de Alagoas, senão talvez nos Cucumbis e autos dos Congos de outros Estados, nos episódios da morte do Mamêto ou do guia. Uma “figura” , a Lira (corrutela de Lília, decantada personagem de antiga canção portuguesa e nome fartamente invocada pelos poetas brasileiros e lusos de setecentos), trazida pelo Rei dos Guerreiros à sua aldeia, é ameaçada de morte pelo caboclinho, a mando da rainha, enciumada do Rei, como se deduz das mesmas cantigas que iniciam a ‘parte” – o “aviso”):
Mestre: Chamada da Lira:
A minha Lira na Beira do mar chorava
A minha Lira na Beira do mar chorava
Figuras:
Mais era triste a sua reclamação
Mais era triste a sua reclamação
Fazia pena quando a Lira soluçava
Fazia pena quando a Lira soluçava
*Dona Nadir: A Lira vivia nas matas, nasceu e se criou-se nas matas: Nasci e me criei nas matas, foi esse rei que me trouxe, me iludiu e ele é falso.
(Chamada da Lira, cantada Por Dona Nadir, em 2010– Pesquisa: Linete Matias).
Aviso:
Aqui chegou um caboquinho de frecha
Chegou na palestra tirando uma mira,
Ele veio com a farsidade
Orde da rainha matá nossa Lira.
Canção do Caboclinho:
Vamos matar a nossa lira
Antes que ela chegue ao porto;
Não quero duas rainha
Nessa aldeia de caboco.
O caboclinho, contudo, apesar de sua ameaça, propõe-se livrá-la da morte, desde que a Lira o aceite em casamento:
Não te mato, minha Lira,
Se tu casares comigo,
Eu, no meio desta aldeia
Te livrarei do perigo.
Mas a Lira repele:
Eu não sou tua mulé
Nem serás meu marido,
Que no meio desta aldeia
Tu serás meu inimigo.
E o caboclinho consuma sua ameaça:
Pronto, Dona Lira,
Aviso venho lhe dá,
Se não casares comigo
A vida vou lhe tirar.
Ante a disposição persistente da “figura”:
Tu matas, infeliz,
Aproveita a ocasião,
Trespasses o meu peito
Feres o meu coração,
Morrendo tô consolada,
Contigo, não caso, não!
Morta, mas de pé, olhos cerrados, encostada no centro da sala ou tablado, a uma das outras ‘figuras” que a sustêm, o coro canta a canção da morte da Lira:
Ô morte que matais a Lira,
Ô matais a mim que sou teu,
Matais-me da mesma morte
Oi, que minha Lira morreu!
Caboquinho de arco e frecha,
Oi na minha porta bateu!
Já foi quem me trouxe a notícia, oi que minha Lira morreu!
Mas, como nos outros autos populares em que há sempre a morte e ressurreição de um dos personagens, a Lira, por artes mágicas do Mateu que funciona como feiticeiro, revive, após usar uma meizinha popular. E sai, rediviva, a dançar entre os guerreiros ao coro da canção:
Meus Santos Reis
Aqui chegamos nós
Chegou nossa Lira
Com seus caracóis.
Fonte:
BRANDÃO, Téo. Folguedos Natalinos. 3ª edição, Maceió ,2003.
MATIAS, Matias. Guerreiro Alagoano. Piaçabuçu, 2010.
A Parte – Guerreiros e Torés - Sonora Brasil – Origens - Circuito Nacional de Música).
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
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