Formação Meninos Guerreiros: A Música no Guerreiro Alagoano

Música

Música: arte dos sons. É constituída de melodia, ritmo e harmonia.
Melodia: sucessão de sons musicais combinados.
Ritmo: É a duração e a acentuação dos sons e das pausas.
Harmonia: É a combinação de sons simultâneos.

Instrumentos de acompanhamento:
Tambor, sanfona, pandeiro.


A Música no Guerreiro Alagoano

“A parte musical, segundo o músico e pesquisador do guerreiro Tido Moraes, é um auto todo cantado, intercalando intervenções instrumentais, como vinhetas de passagem entre um episódio e o próximo. Acontecem pausas chamadas de embaixadas, nas quais o mestre e as outras figuras do guerreiro representam seus personagens em versos falados.“


As cantigas ou “peças” inicialmente tiveram o mesmo estilo e a mesma música das cantigas dos antigos reisados, formando-se de quadras; abcb.

A rainha do Guerreiro, a
A rainha da nação, b
Fazendo entusiasmo c
Devagá pisa no chão. b

Ou

Ô minha Lira, a
Rainha primeira, b
Encruza a perna c
Seja mais ligeira. b

Ou

Vamo, meu mateu,
Secretaro e generá;
Vamo embaxadô
Na ponta do Pé quebrá.

Depois, apresentaram-se em estrofes de quatro versos de rimas entrelaçadas (ou de oitavas polimétricas abbccddc) que iniciadas nos Reisados passaram a ser as formas predominantes nas “peças” de Guerreiro:

O Lourenço ficou pra rimá
Ô meu pessuá quem de mim não tem pena,
Minha açucena no jardim murchou
Guerreiro chegou, venha vê morena!

Ou

Eu me deitei
Em teu braço alegre
Você me pede
Um carinho eu dou
Guerreiro eu vou
Mais você não vai
Sereno cai
Aguardando a flô.

Ou

Eu namorei
A moça Maria Helena
Pra deixá eu tive pena
Que era um bem querê sem fim;
 Tire o galho do Alecrim
Pra rimá eu sou constante
Eu achei interessante
O que a donzela disse a mim.

Ou

Brinca o João Amado
Brinca Artu, brinca Paizinho,
O Lourenço era bonzinho,
Foi ao Rio de Janeiro;
No mundo inteiro
A minha fama estremece
Eu não acho mestre
Que me arranque do Guerreiro.

Como nos antigos Reisados, os Guerreiros cantam ainda: as marchas de rua;

Marcha Guerreiro que tá na hora
De rua afora na pancada do tambor
Guerreiro eu sou leão de guerra
O Treme-terra de Alagoas chegou
(Mestre Benon)

As peças de Entrada de sala, sede ou de Saudação:


Boa Noite senhor eu cheguei
De longe avistei essa terra tão boa
Não é a toa que a volta é cruel
Meu Guerreiro é campeão de Alagoas
 Ou

             (Mestre Verdi linho) 
Deus te salve casa santa
Onde deus fez a morada
Onde mora o calix bento
E a hóstia consagrada.
(Mestre Alexandre)

A louvação ao divino:

Cheguei na igreja avistei
Ao padre perguntei se era pecado rezar
Ajoelhar bem direitinho
Guerreiro fazendo pelo siná.
            (Griô Ferrete)

Na temática das peças figuram ainda os assuntos amorosos:
Ô menina, eu vou lhe dizê
Nosso bem querê nunca se acabava
Eu amava garota madera
Até as palmeiras se arretombava.


As “peças” de elogio, auto-elogio, elogio aos colegas ou  mestres de guerreiro:

Eu sou mestre Benon
Esse meu som se ouve no mundo inteiro
Sou verdadeiro, minha rima é boa
Em alagoas nasci pra cantar Guerreiro

As “peças” de época, isto é, dos sucessos do não em curso:

Achei bonitão o balão dirigive
Achei incrive quando vi ele passá,
Eu fui olhá: ele vinha tão ligeiro
Vinha maneiro na macieza do ar.

As “peças” de tom abainado e o tom de xangô, influenciados respectivamente pelo brinquedo das baianas e pelos terreiros de Xangô, “ Abaianadas “ ou de “tom Pernambuco” são:

Esses mestres de guerreiro
Que dizem que são lião
Aí, quando chega na sede do campião,
Pede a minha proteção pra pudê brincá,
Eles pega a recramá, fica desmoralizado
Fica sabendo que meu nome é pá marvado
Se pende para meu lado só vem é pená.

Ou

Dei um passeio em seu reinado
Mas no lugar que a lua mora
Mas o sol tava de fora
Quase que eu morro queimado
Mais eu já ia preparado

Com meu Guerreiro de aço
O mestre é pedra de fogo
A figura é fogo serrado


Fonte: BRANDÃO, Téo. Folguedos Natalinos. 3ª edição, Maceió ,2003.
           MATIAS, Matias. Guerreiro Alagoano. Piaçabuçu, 2010.